Amador: ídolos do Furacão param em ex-tricolores

Com Nem de técnico e Alex Mineiro em campo, Bairro Alto ficou no 0-0 com Trieste de Ageu e Goiano; Suburbana é laboratório para ex-zagueiros começarem carreira de técnico

por Ana Claudia Cichon*

A partida entre Trieste e Bairro Alto realizada no sábado (21), no estádio Francisco Muraro, contou com um duelo especial nos bancos de reservas. Os ex-zagueiros Nem e Rossano Santana, que durante a década de noventa se enfrentaram nos gramados do futebol profissional com as camisas de Atlético e Paraná Clube, respectivamente, viveram a experiência de um confronto fora das quatro linhas.

Nem e Rossano; um tapa o buraco, outro quer projeção (Foto: Ana Cichon)

Em sua segunda partida como técnico do Bairro Alto, o ex-zagueiro do Atlético conquistou seu segundo empate e segue invicto, mas garante que a função é por pouco tempo. “Eu vim para jogar, mas como acabei me lesionando aceitei a proposta da diretoria para assumir o comando da equipe enquanto não encontrassem um novo técnico. Mas assim que tiverem um nome e eu estiver recuperado quero voltar para dentro de campo”, explica.

Já Rossano Santana está no seu segundo ano como treinador do clube de Santa Felicidade e afirma que largou de vez a posição de jogador. “Para mim este é um início para seguir carreira como técnico. Estou aqui no amador, comandando o Trieste pelo segundo ano, ganhando a cada dia mais experiência para quem sabe chegar a ser técnico de alguma equipe profissional em breve”.

Trieste quase marca, mas ninguém, nem Alex Mineiro, chacoalhou o limoeiro (Foto: Ana Cichon)

Comandando ex-companheiros

Apesar desta diferença nas projeções para o futuro, os técnicos possuem uma característica em comum: hoje passam instruções para seus ex-companheiros de clube, que ainda não saíram dos gramados. E este comando visto nos dois treinadores está diretamente ligado à função que ambos desempenhavam nos gramados.

“Se formos analisar a quantidade de ex-jogadores que estão como técnicos atualmente, quase 90% eram zagueiros. Geralmente são os líderes em campo, já possuem este espírito de liderança”, assegura Rossano. O técnico alvinegro confirma esta colocação, ressaltando que o fato de os zagueiros estarem atrás do meio de campo, tendo a visão de todo o jogo, facilita a questão de análise de posicionamento e outras noções que os técnicos precisam.

Na equipe do Trieste, por exemplo, Rossano lidera alguns ex-colegas de Paraná Clube, como Ageu, Goiano e Flávio e fala que, apesar de ser mais novo que alguns de seus comandados (Rossano tem 31 anos), o respeito é muito grande, principalmente por já se conhecerem de antes, de terem sido companheiros de equipe.

No Bairro Alto Nem conta com dois companheiros campeões brasileiros pelo Atlético em 2001: o também zagueiro Rogério Corrêa e o atacante Alex Mineiro. E a parceria que foi repetida antes da contusão do atual técnico pode ser percebida mesmo fora de campo. Durante todo o jogo Nem e Rogério Correa conversam, trocando opiniões sobre posicionamento e jogadas. “O Rogério é um grande amigo, e por ele ter a mesma experiência que eu como zagueiro fica fácil discutirmos estratégias e termos ideias para melhorarmos o rendimento da equipe”, comenta. Sobre a relação de comandar seus antigos companheiros Nem é enfático: “Não tem nenhuma diferença. Eu já os comandava quando estava em campo”.

O jogo

Futebol e religião se misturando na Suburbana (Foto: Ana Claudia Cichon)

Reeditando a final da Suburbana do ano passado, quando o Bairro Alto conquistou o título após vencer o Trieste por 4-0 no primeiro jogo e empatar em 1-1 na segunda partida, os dois clubes fizeram um bom duelo, mas que acabou sem gols. O melhor lance da partida aconteceu aos 41 minutos do segundo tempo com o meia triestino Goiano, mas o chute acabou parando na defesa parcial do goleiro Dida. Na sequencia Massai fez o corte, garantindo o empate ao Bairro Alto, que estava com um a menos após expulsão do zagueiro Flamarion.

Trieste: André, Rafael, Zico, Baloi, Lima, Adam, Geraldo, Pilo (Juninho), Goiano, Edvaldo e Flávio (Malzone). Técnico: Rossano Santana
Bairro Alto: Dida, Jorge, Rogério Correa, Flamarion, Luciano, Caíque (Caio), Zé Nunes, Massai, Douglas Silva (Marcelo Tamandaré), Alex Mineiro e Edmílson (Reinaldo). Técnico: Nem

Resultados da rodada
Trieste 0x0 Bairro Alto
Iguaçu 1×0 Novo Mundo
Santa Quitéria 2×1 Nova Orleans
Combate Barreirinha 1×1 Urano

*Ana Claudia Cichon é jornalista e vai trazer imagens e história da Suburbana semanalmente aqui no blog.

A valsa dos 15 anos

Ricardinho tira o Paraná para dançar: a condução agora é dele (foto: Geraldo Bubniak/@futebolpr)

Ricardinho é literalmente uma aposta da diretoria do Paraná para o resgate do clube em 2012. Como a sugestiva (e com muito senso de oportunismo de Geraldo Bubniak) foto acima, é uma valsa de 15 anos a ser conduzida pelo jogador que despediu-se do Tricolor em 1997, no ano do penta estadual. Deixou um Paraná e reencontrará outro, que precisa muito mais dele do que o contrário.

É o jogador, ídolo do clube, quem tem a perder. A imagem vencedora estará em xeque, pois o torcedor não perdoa: uma, duas ou três derrotas seguidas e o ídolo será, naturalmente, vaiado. Futebol é resultado. Ricardinho recebeu ontem da diretoria 23 jogadores para uma seleção. Seis únicos remanescentes da temporada 2011 e o restante do time júnior do Paraná, jogadores para quem a imagem de Ricardinho, campeão no Corinthians e na Seleção, fazem diferença.

Esse não é o único ponto em que o meia, agora ex-jogador, traz benefícios. O relacionamento por onde passou deixa o Paraná com as portas abertas para a montagem de um elenco. Ricardinho já recebeu ofertas para que jogadores de Corinthians, Flamengo, Cruzeiro, Internacional e Atlético-MG, não utilizados em seus clubes, defendam o Paraná em 2012. A diretoria pretende trazer esses jogadores usando a camisa como vitrine, com benefício técnico em campo e financeiro fora: há a promessa de que cada jogador deixe um percentual para o clube quando ganhar mercado e for negociado. Esperemos.

Se o noviciado de Ricardinho na função será um problema só o tempo dirá. Fato é que o Paraná não tinha nada antes dele e, após muito tempo, foi destaque nacional pela volta do ídolo. É um penta-campeão, trabalhou com técnicos de gabarito a vida toda e sempre demonstrou ser um cidadão antenado nos assuntos do país, com cultura acima da média da maioria boleiros. Difícil avaliar os conhecimentos técnicos do agora treinador; mais fácil é mensurar que a apresentação levou muitos torcedores à Sede Kennedy, que, de orgulho resgatado, cantaram o hino do clube a quem quisesse ouvir.

O Paraná dá um passo certeiro fora de campo. Deve explorar a marca do ídolo e inclusive estuda um jogo de despedida. Já está melhor do que esteve recentemente. O resto é com o tempo.

Informação: o Paraná finalizou o patrocínio com a Sinoway, patrocinadora em 2011. O fim do acordo não foi feliz: o Tricolor não recebeu da empresa os valores combinados e deve buscar isso na justiça.

Outro lado

Chamou a atenção da demissão de Ageu do clube pela história que o ex-zagueiro, também ídolo da torcida, tem no Paraná. A mim, chamou menos atenção a saída em si, um direito de Ricardinho como novo comandante, do que a explicação da demissão.

Ricardinho, que um dia foi considerado o jogador mais traíra do Brasil, expôs o ex-colega publicamente. Disse que não manteve Ageu pelas declarações do então auxiliar, que disse a Gazeta do Povo que era mais experiente e preparado para assumir o clube, enquanto ele (Ricardinho) ainda era um jogador.  Soou como um recado, do tipo, “viu só? Comigo ninguém brinca.”

Ageu provavelmente não sabia da negociação com Ricardinho e falou o que pensava para defender sua posição . Ricardinho, já empossado, poderia ter guardado para si as razões e simplesmente justificado que prefere trabalhar com o irmão, Rodrigo Pozzi, um direito que tem.

Seseguir levando a público as broncas que terá no cargo daqui para frente – e não serão poucas – pode ter menos tempo na função do que todos pretendem que tenha.