Alerta Vermelho

Dezenove jogos já são mais que suficiente para avaliar uma equipe. Portanto, apesar de oscilar bons e maus momentos, dá pra dizer: o alerta vermelho está ligado no Coritiba.

O Coritiba me engana à toda hora. Foi campeão estadual com méritos, apesar dos questionamentos na tumultuada arbitragem local. Fez o que devia na hora certa, afinal. Chegou a uma decisão de Copa do Brasil pela segunda vez seguida, e contra um adversário em que era favorito, perdeu. Mas conseguiu um feito histórico e, pra quem atribui isso à tabela, lembro que São Paulo, Botafogo e Vitória tiveram a mesma oportunidade. No Brasileiro, faz bons jogos (Náutico, Vasco e Cruzeiro) e jogos horríveis (Botafogo, Sport e Figueirense); desperdiçou nova Sul-Americana, mesmo jogando bem, se entregando ao Grêmio no minuto final. Não nos permite avaliar se é bom ou ruim. Apenas de que é irregular demais.

Mas o alerta tem base numérica. Essa é a classificação final do primeiro turno em 2011:

O primeiro time fora da ZR era o Bahia, com 20; o primeiro a cair, era o Atlético, com 18. Dos três da ZR em 2011, só o Atlético-MG escapou. O Coxa, em 2012, tem 19 pontos:

Está com uma folga maior (3 pontos) do que o Bahia tinha o ano passado – e tem até o próprio Bahia entre a ZR – mas tem uma pontuação preocupante após 19 rodadas. E pior do que isso: tem abaixo de si um gigante do futebol brasileiro, o Palmeiras e um time que está jogando bem, apesar da fase, o Atlético-GO. Além disso, perdeu para o Sport em casa e jogará no Recife; e perdeu também para o Figueirense. Também em casa, perdeu pontos para o Palmeiras.

Preocupa a instabilidade no Coxa. Enquanto a análise geral, em especial da torcida, é por um atacante, o problema na verdade é outro: a defesa. O ataque alviverde é o segundo melhor do Brasileirão, ao lado do Fluminense (31 gols) atrás só do Atlético-MG, 33. A defesa é a pior entre os 20 clubes: 37 gols sofridos.

Ou seja: há produção ofensiva, mas atrás, uma peneira. E com Emerson fora, o time perdeu o melhor jogador do setor. Só que culpar Pereira, Lucas Mendes ou Escudero é ser simplista: o problema mesmo está no meio.

Sem Leandro Donizete, o Coxa perdeu pegada. Era um perdigueiro em campo. Sem Léo Gago, perdeu qualidade na saída de bola. E a reposição não foi a altura. Donizete está no líder Galo, Gago no 3o colocado Grêmio, as duas melhores defesas da competição.

O Brasileirão é cruel. Não tem jogo fácil e a cada ano que passa, a tabela de classificação parece mais uma lista do “holerite” dos clubes, com os 12 que melhor recebem tendo entre si apenas o “inconveniente” Náutico. O trauma recente dos rebaixamentos (2005/09) está guardado no armário, no fundo de uma gaveta, apagado pelo tri-paranaense e as duas finais da Copa do Brasil.  O orgulho de ser o único paranaense na elite não pode ser confundido com suficiência técnica: o Coxa precisa acertar a defesa e saber que o ano, especialmente depois da queda na Sul-Americana, é brigar pra não cair. O alerta está ligado.

Abrindo o Jogo – Coluna no Jornal Metro Curitiba de 08/08/2012

A única entrevista de Petraglia

Na semana em que deve confirmar o 9º técnico em 18 meses (uma média impressionante de um treinador a cada 60 dias) o Atlético se vê em um beco sem saída na crise existencial que vive há pelo menos duas temporadas. Outrora estilingue, o “messias” Mário Celso Petraglia – que fez muito pelo clube em outros tempos – já não pode culpar o antecessor pelo fracasso em 2012. A atual direção repete os erros de Marcos Malucelli, com um agravante: não se explica à torcida. Petraglia não fala via imprensa e fechou-se também às redes sociais. Dá a impressão de que, munido pela obra na Arena, está distante do que o futebol atleticano faz: um fiasco total. Petraglia já trocou de técnico quando não devia, errou em contratações e segue apostando em uma diretoria de futebol ineficiente, sob a tutela de Dagoberto dos Santos. Ficar na Série B em 2013 parece ser o destino. O presidente atleticano, avesso a entrevistas desde que se elegeu (até então falava aos quatro cantos), só precisa dar uma única em Curitiba. Falou em Guarantiguetá, mas não fala em casa. E o que tem a dizer é simples: assumir que errou nas escolhas e ter humildade para recomeçar enquanto há tempo.

Diferentes, porém iguais

As coisas não estão simpáticas à Coritiba e Paraná.  Em séries diferentes, com exigências diferentes, vivem o mesmo problema: a falta de gols. O Coxa sofre pela expectativa exagerada, criada por ele mesmo quando chegou (e perdeu) pela segunda vez seguida à decisão da Copa do Brasil. E sem um atacante definidor, faz o óbvio: perde de quem é melhor, mesmo em casa (Botafogo, Fluminense) e vence quem é pior, mesmo fora (Náutico). Não cairá, mas não sairá disso. O atacante também é problema na Vila. Joga bem, mas não vence. Li uma boa comparação: é como a pretendente que te dispensa dizendo que “gosta de você, mas só como amigo.” Porém, se o Coxa tem mercado e potencial financeiro para arrumar a peça que falta, o Tricolor não. Está no limite do que pode fazer. Vai com o que tem. E convenhamos, pelo cenário que se desenhava em janeiro, está indo muito bem. Mas assim não subirá – evidentemente.

Cultura esportiva

Respiro a Olimpíada de Londres, acompanhando os mais diversos esportes. Já estive em transmissões de natação, boxe, vôlei de quadra e praia, basquete, judô e handebol. A euforia que toma conta da torcida, interessando-se pelo desempenho dos atletas no decorrer dos jogos, é proporcional à cobrança injusta quando os brasileiros fracassam. Não que não deva haver cobrança; deve, afinal, quem quer projeção está na mira. Mas não temos cultura esportiva no País. Gostamos é da vitória. Dizer isso significa que temos que entender que não somos uma potência esportiva, que os atletas não são infalíveis, mesmo quando favoritos. Favoritismo não é certeza de vitória. Nos quatro anos que antecedem os jogos, ignora-se nada que não seja futebol. Nos jogos, se quer múltiplos ouros. Não dá. O esporte é parte importante de um círculo virtuoso social: integra, ensina, afasta do crime e das drogas. Poderia ser uma saída para o crescimento. E então nascerá a cultura esportiva geral – possivelmente junto com mais vitórias.