Dez razões para o fracasso do Atlético na Série B 2012

Títulos proféticos são um chamariz para a condenação de qualquer jornalista. É querer adivinhar o futuro, o que no futebol pode ser muito cruel. No entanto, dezembro é o mês do “dez mais”: os craques do ano, os gols mais bonitos, as razões do sucesso e, claro, as do fracasso.

Passado o ano, é mais fácil avaliar. Nem sempre é mais aproveitável – afinal, a obra já está pronta.

É por isso, com base em 6 meses de atividade profissional no futebol brasileiro, que me coloco na mira da torcida ao antecipar 10 razões para o fracasso atleticano na briga do acesso pela Série A em 2013 – em tempo ainda de serem evitados. Se não forem, prometo: repito a postagem ao final da Série B, com direito a contestações postadas.

1) Home sweet home

Jogar em casa, um luxo em 2012 (foto: Geraldo Bubniak)

Qualquer time tem como principal arma o fator campo. O Atlético sempre se vangloriou do “Caldeirão”, o alçapão em que a Arena se tornou nos momentos decisivos.

Em 2012, por conta da obra para 2014, o Atlético perdeu essa força. Não foi uma ou duas vezes em que os próprios jogadores reclamaram ter de jogar em um campo diferente, sem identificação. O Atlético já transitou por Germano Kruger, Eco-Estádio, Vila Capanema e agora milita no Caranguejão, em Paranaguá.

Não conhecer (no sentido de saber bem quais são) as dimensões do gramado, vestiário, ter ao lado a presença da torcida, saber que aquele é o seu local de trabalho. Somadas, as razões são muitas para a inibição de um bom desempenho, treinando o que treinar. Jogar contra o Atlético hoje não assusta mais que o normal: é uma partida de futebol profissional em um campo homologado. Falta o fator casa.

E, diga-se, a discussão é longa e não vale nesse post, tamanha novela. Mas, olhando pelo prisma atleticano, algo deveria ter sido pensado antes.

2) Ambição – tem que querer

"Yo?"

“Nunca nos pediram a conquista (sobre Copa do Brasil e Série B). A prioridade é o acesso”, disse Juan Ramón Carrasco em sua despedida do Atlético.

Querer ganhar o título é o passo número um para chegar lá. É a história do cara que reclama que nunca ganhou na mega-sena – mas não joga. A falta de ambição nas cobranças sobre Juan Carrasco e a conquista da Série B são sintomáticas.

Ao dizer o que disse, o ex-treinador atleticano deixou claro que o bicampeonato da Segundona não é prioridade no Furacão.  Aceitável, na última rodada; nunca na primeira. Pego o Coritiba como exemplo.

Campeão nacional em 1985, nos anos 2000, rebaixado e campeão em 2007, amargou uma nova queda em 2009. Acompanhei cada passo daquela conquista. A título de galhofa, no início da competição, atleticanos zombavam coxas sobre o “bicampeonato”. Certa feita, assunto corrente na cidade, conversei com o então vice-presidente Vilson Ribeiro sobre o tema. “O Coritiba entra em qualquer campeonato para ser campeão. Não queríamos estar na Série B, mas já que estamos, vamos atrás do título.”

O grau de exigência mínimo deve ser esse para qualquer clube que se pretende grande. Foi assim com Palmeiras, Atlético-MG, Corinthians, Vasco e com o já citado Coritiba. Mas, pela declaração de JR Carrasco e principalmente pelos investimentos feitos pela diretoria atleticana, não parece ser o mesmo no Rubro-Negro.

3) Liderança e bons exemplos

A história de David Trézéguet no River Plate pode ser um exemplo para qualquer clube grande em baixa. Todos que se encaixam nessa categoria têm ídolos, exemplos, gente que pode simbolizar uma retomada. Alguém que, em campo, seja o símbolo de algo que é uma verdadeira guerra – afinal, presume-se que o verdadeiro habitat desse padrão de clube não seja uma divisão inferior.

Ao Atlético, falta isso.

Paulo Baier, o ídolo de um Atlético carente (tem brio e caráter, mas vivencia uma era sem conquistas) se apresenta para o papel, mas carrega consigo o peso do parênteses anterior e também da idade. O time não tem uma liderança em campo – convenhamos, não é de hoje.

Um Trézéguet que mostre “Eu jogo aqui porque é grande”, não importa a divisão. Algo como Ney Franco fez pelo Coritiba 2010 ou Fernando Prass no Vasco 2009 ou mesmo Chicão, líder do elenco do Corinthians 2008. Um símbolo, enfim.

4) Tranquilidade & ambiente

Sitting, waiting, wishing (Foto: Allan Costa Pinto, PRON)

Muitos podem não enxergar, mas o que acontece com Morro Garcia é nocivo ao Atlético. Contratação mais cara da história do clube, Morro não pode jogar por ordem da diretoria, que não aceita a negociação feita pela gestão anterior.

Ao mesmo tempo, outro jogador qualificado, Joffre Guerrón, também está na geladeira. No clube, pelo que apurei, alega-se que o atleta não quer ficar; o mesmo já deu demonstrações disso, mas está aí à disposição. Além disso, a pressão da queda (o elenco quase não foi reformulado), o peso sobre os da base e a insistente improvisação em vários setores, tanto Carrasco quanto com Drubscky, deixam todos em alerta.

O que importa, na verdade, é algo que qualquer um pode transportar para o seu ambiente de trabalho. Você chega para um dia de trabalho, um colega está impedido de exercer a profissão, outro está em espera, outros estão em funções diversas as que estão acostumados ou deveriam exercer.

Aí tem cobrança, pressão, pouca ou nenhuma badalação – não se esqueça que pecado ou não, vaidade é um combustível. Bingo!, está criado um ambiente pesado.

5) Prioridades

Liguera, Fernandão, Weverton, Renan Teixeira, Zezinho e Gabriel Marques. Ainda pode se considerar nessa lista Rafael Schimitz e o lateral Adriano.

Esses foram os reforços de um Atlético rebaixado para a tentativa do acesso. Zezinho demonstrou potencial, Liguera (machucado um bom tempo), Fernandão e Weverton carecem de melhor avaliação. Marques é dedicado. Nenhum convincente.

Juan Ramón Carrasco uma aposta; Ricardo Drubscky, outra. Mal avaliada, pois defende como teórico que um treinador deve estar sempre à beira do campo, mas foi contratado com seis jogos de suspensão.

O departamento de futebol ainda parece muito teórico. Mas já se passaram seis meses. Claro que a cúpula que mantém o sistema é visada (ler abaixo), mas a responsabilidade é funcional.

6) Estabilidade política

Você, atleticano que lê esse texto (coxas e paranistas se divertindo não contam), responda mentalmente, sem pestanejar: é malucellista ou petraglista?

Desculpe, pensei que você fosse atleticano.

Fato é que o Atlético dividiu-se em setores políticos. Em 2011, o fracasso era sinônimo de alegria para muitos; em 2012, a resposta vem à galope. Resultado? Um clube desunido, fragmentado. Na riqueza (porque quem viu o Atlético 80’s sabe) o clube vive sua pior fase. Tipo divisão de herança de rico.

Enquanto isso, o navio vai rumo ao iceberg.

7) (Falta de) Mobilização

Letargia. Nenhuma palavra resume melhor a torcida atleticana. O Atlético não mobiliza mais ninguém. O golpe foi forte. É verdade que os tópicos acima só deixam a coisa ainda pior. Mas, enfim, qual é o papel do torcedor?

Oras!, torcedor, torce. Na 1a ou na 10a divisão. Sendo assim, tá na cara que falta ânimo aos atleticanos, que nem cobrar mais cobram. Basicamente observam os eventos, quase que impávidos. Não, não é intenção do colunista promover a desordem. Até porque, cá entre nós, mobilizar-se é um problema do Atlético e dos seus.

Mas o estado de “ah, é assim mesmo” tomou conta. Ovo ou galinha?

8) Sucesso alheio (ou inveja)

Não se pode negar que a má fase do Atlético é concordante com a boa fase do Coritiba. E não falo da final da Copa do Brasil de 2012, mas sim das duas, do tricampeonato e da diferença na condução do futebol que um clube abriu de outro.

Desde a declaração do ex-presidente Marcos Malucelli de que o “Coritiba está 10 anos atrás do Atlético”, a “distância” diminui a cada dia. Para o contínuo da contabilidade, não importa o melhor CT, o melhor estádio; o time do colega está surrando o dele. Quem paga a aposta – e o mico –  é ele (e isso, amigos, é o que move o futebol. Rivalidade sadia e bom humor). Mas não é mole pra quem tá por baixo.

Então, se a derrota para o Boa já é ruim, imagine se o Coxa vencer o São Paulo e…, ops. Entendeu, né?

Assim sendo, o que o Atlético tem que fazer não é evitar essa pressão, porque é impossível.

É conviver com ela e fazer o seu melhor.

Oras, não foi o que o Coxa, campeão paranaense em 2003/05, fez enquanto o Atlético brilhava? Então volte ao tópico “Ambição.”

9) Qualidade

Pé de jabuticaba dá jabuticaba. Ponto.

Você pode passar sementes de maracujá na árvore, usar o melhor adubo, conversar, abraçar, regar todos os dias. Fazer simpatias, pular num pé só, vestir-se de maracujá.

Pé de jabuticaba não dará maracujá.

Um elenco que demonstrou falhas desde janeiro, perdendo pontos para o rebaixado Roma, não vai conseguir o acesso. Insistir nisso é incompetência, cegueira ou má intenção.

10) Investimento

Em 2011, Mário Celso Petraglia divulgou a lista de salários do então elenco atleticano. Condenável abrir o sigilo de cada atleta, ainda que cada salário ali pudesse ser um acinte. R$ 50 mil para jogar mau futebol, quando tem cientista que não ganha isso para pesquisar a cura do câncer… enfim. É a regra do mercado.

De todo modo, MCP não pode esquecer algo: em 2012, comanda o clube de maior orçamento da Série B. Dos 12 clubes acima do Atlético na classificação nesse momento (23/06/12), quantos tem folha de pagamento maior que o rubro-negro?

Não se deve violar a intimidade financeira dos jogadores, mas acho que a resposta pode ser constrangedora.

Exclusivo: Vilson Andrade e o momento do Coritiba

A palavra crise andou rondando manchetes sobre o Coritiba nessa semana, quando o time perdeu uma invencibilidade de 48 jogos em campeonatos paranaenses. É bem verdade que a equipe não vem jogando bem, mas também é fato de que chega a ser irônico referir-se a crise quando um time perde pela primeira vez após tanto tempo.

Seja como for, o Coxa teve uma reunião entre diretoria, jogadores e comissão técnica ontem. E amanhã pega o melhor time do returno, o Londrina, precisando de uma goleada por 5-0 para assumir a liderança e tentar uma vaga na decisão, que já conta com o rival Atlético. Em meio a pressão, conversei com o presidente do clube, Vilson Ribeiro de Andrade, que soltou o verbo sobre o momento coxa-branca:

Napoleão de Almeida: O que você enxerga nessa fase do Coritiba?
Vilson Ribeiro de Andrade: Precisamos de três jogadores, já está no planejamento. Estamos esperando a definição da Libertadores, tem muito time inchado, não vai continuar assim. Tivemos problemas médicos no começo do ano e investimos R$ 200 mil em um aparelho isocinético, que previne lesões. É tudo investimento. Temos que trazer três peças para chegar e ser titulares. Eu entendo muito é de finanças, de futebol não entendo muito. Mas o que eu vejo é que o meio de campo não ajustou. Tem que trazer alguém que fará esse trabalho de aproximação. Sem isso, é improvisação e bola parada.

NA: O clube perdeu peças importantes e não repôs a altura. Essa análise é justa?
VRA: Olha… nós tivemos decréscimo no quadro associativo [Nota do blog: o clube afirma ter 19 mil sócios adimplentes e 25 no total, com atraso], passamos esses primeiros meses com prejuízo. Mas veja, Emerson e Rafinha tiveram propostas e nós seguramos. É um esforço que o clube fez. O Grêmio trouxe o Kléber [Gladiador, que quebrou a fíbula] a 560 mil por mês e agora está seis meses fora.

NA: Nos bastidores, muito se falou em salários atrasados. É verdade?
VRA: Quando time não está bem, a primeira coisa é falar em salário atrasado. Não é o caso do Coritiba. No futebol funciona assim: você paga fevereiro até o fim de março. Eu pago primeiro os funcionários e vamos acertando o resto. Mas está tudo de acordo com o que combinamos com o grupo de atletas. Ontem (segunda, 26/03) eu saí da clínica [Vilson está em um tratamento de saúde] e fui direto pra lá. Sentamos com os jogadores, mostrei pra eles a confiança que eu tenho e a responsabilidade que eles tem. Eu disse a eles: quem não estiver satisfeito, não tem problema nenhum. Eu faço a rescisão e pode ir embora.

NA: E eles?
VRA: A conversa foi muito boa. Aqueles que não estiverem no ritmo do grupo nós vamos afastar. Discretamente, sem alarde. Tem gente que não aprendeu espírito de competição. Não adianta qualidade técnica se não tiver esse espírito.

NA: Quem? Existe indisciplina?
VRA: Acredite: não tem indisciplina. O problema é querer competir.

NA: A torcida vem pegando muito no pé do [técnico] Marcelo Oliveira…
VRA: Mandar o treinador embora é jogar para a torcida, tentar agradar. Eu não sou assim. Eu agrado às minhas convicções.

NA: Hoje saiu a informação de que Atlético e Coritiba irão a julgamento no TJD-PR pela medida de permitir uma só torcida no jogo da Vila Capanema. Você pretende repetir a medida no Couto Pereira? Como encara uma definição diferente das partes?
VRA: Se ele [Mário Celso Petraglia, presidente do Atlético] não cumprir a palavra, eu não estou nem aí. Se quiser por 3 mil atleticanos lá, sem problemas. O estádio tem condições para atender as duas torcidas. O que eu tenho que fazer é por um time em campo pra ganhar o jogo. Mas estou vendo o que há de garantia com o Ministério Público, a polícia, o departamento jurídico… e se ele roer a corda, ficará feio pra ele.

NA: A relação entre você e Petraglia não está boa, pelo visto.
VRA: Eu disse a ele no começo do ano: “Paranaense, esqueça. Brasileiro, podemos pensar [sobre aluguel do Couto Pereira].” Aí estávamos conversando no Hotel Bourbon, eu estava negociando o Couto, mas recebi uma mensagem no meu celular. Ele estava com gente no Rio de Janeiro forçando a CBF a baixar o artigo 7º [artigo do RGC da CBF que dispõe da necessidade de empréstimo compulsório de estádios se a entidade requisitar]. Disse a ele na hora: esqueça, não quero mais negócio. Ele me disse: “então você me aguarde.” Ok, se é assim, tudo bem.

NA: E o estádio novo? Em que pé está?
VRA: Nada muito novo. Estamos negociando. Veja, o estádio do Grêmio levou quase 5 anos para ter tudo aprovado. Talvez até o final do mês a gente tenha alguma posição para levar ao conselho, mas ainda vai tempo.