O exemplo de Ghandi

“Um homem não pode fazer o certo numa área da vida, enquanto está ocupado em fazer o errado em outra. A vida é um todo indivisível.” (Mahatma Gandhi)

O vídeo acima foi divulgado pela Gazeta do Povo nesse domingo (e está disponível na íntegra nesse link) e foi feito em uma reunião a portas fechadas do Conselho Deliberativo do Atlético, no início de 2010.

Ali, ainda com Marcos Malucelli na presidência do clube, o Atlético discutia o formato pelo qual deveria tomar o empréstimo do BNDES para a conclusão da Arena para a Copa 2014. Receosos, os dirigentes à época temiam deixar o patrimônio do clube em risco ao assumir um investimento para reformar o estádio para um evento que não é do clube. Em contrapartida, sabiam das vantagens de poder fazer o mesmo patrimônio crescer aproveitando a Copa e os incentivos governamentais – isenção de impostos, taxas baixas de juros, potencial construtivo aplicado na área do estádio, desapropriações baseadas nas necessidades do Estado. O risco é inerente a oportunidade. São as dores do crescimento. Mas estamos pensando só no modo lícito.

Então vereador e conselheiro do Atlético, o atual gestor do Estado para a Copa do Mundo, Mário Celso Cunha, pediu a palavra. E soltou a pérola:

Eu tenho quase certeza que os clubes que vão assumir esse financiamento não vão pagar coisa nenhuma. E na sequencia eles não vão ter dinheiro. (…) Então vai ser como essas dívidas de clubes com o Governo, que não vão ser pagas. (…) Eu acredito muito que eles vão perdoar essa divida, porque não vai ter como.

Cunha queria convencer os pares de diretoria a tomar a decisão corajosa de empenhar o patrimônio do clube em prol de uma modernização do estádio que pode efetivamente colocar o Atlético em outro patamar no futebol brasileiro, quiçá mundial. Um estádio Fifa é sinônimo de mais rendas em público, publicidade, eventos. É outro padrão.

Despido da necessidade que um homem público tem, Mário Celso Cunha mostrou a diferença entre ética e caráter, ao incentivar o Atlético a assumir qualquer risco prevendo um calote no Governo. Em síntese: ignorem-se os riscos, o Governo absorverá tudo. Cunha, então vereador e gestor das contas públicas, não imaginava que estava sendo vigiado. Foi na contramão do que seu cargo exige – e hoje ainda mais, pois ocupa a cadeira mais importante no Estado sobre Copa do Mundo, abaixo apenas do Governador Beto Richa.

Bonachão e quase sempre sorridente, Mário Celso Cunha cometeu um equívoco ético: jamais deve incentivar um calote, especialmente sendo um homem de governo. Ele sabe que o dinheiro público é de todos, e não de ninguém, como se costuma pensar no Brasil. E que este benefício deve ser bem administrado, especialmente em um país com sérias distorções sociais. Cunha, entre quatro paredes, foi quem realmente é. E como ensina Ghandi, a vida é indivisível: somos o que somos em qualquer lugar.

O Atlético não precisa do calote. É um parceiro do Governo (já mal visto por boa parte da população por essas e outras coisas mal conduzidas) em um processo que é prioritário para o Estado e para outro parceiro, a Fifa. Não se nega jamais os benefícios que o clube tem e terá; e que terá que pagar para isso também, nessa via de mão dupla. O Atlético tem recursos para honrar com sua parte no acordo – e a diretoria que estiver no poder tem que levar isso a ferro e fogo, se tiver caráter.

Ao sugerir o calote em um ambiente interno, Cunha demonstra não ser o gestor ideal para quem quer lisura no processo do Mundial 2014. Desta vez, com quase dois anos de atraso, alguém estava de olho. Em outras, pode ter a liberdade que pensou que tinha nesse caso. Pouco importa o contexto com o qual o atual gestor da Copa no Paraná sugeriu o calote: a simples idéia é suficiente para que ele deixe o cargo por arrependimento próprio ou, caso não, seja exonerado da função.

E o ensinamento de Ghandi serve também ao atual governador. Não se divide a vida, não se divide a política. Absorver a idéia sugerida acima é compactuar com ela. É um recibo oficial para o calote.

Com a ação, o governo.

Rápidas e Precisas

Início de noite agitado nessa segunda-feira, aproveito para atualizar o blog com os temas do dia:

Atletiba 349

Ainda não há confirmação do local, mas desde o pedido do Ministério Público-PR para que o jogo não seja no Eco-Estádio, passou-se a buscar soluções. Como é de conhecimento público, Vilson Ribeiro de Andrade abriu a possibilidade de realizar os dois clássicos no Couto Pereira, mas não foi procurado pelo Atlético. Quem procurou o Coritiba foi a CBF, apenas consultando a possibilidade de emprestar o estádio ao Rubro-Negro – diferente da requisição impositiva da FPF, que ainda terá julgamento no STJD.

Hoje o repórter Eduardo Luiz, da rádio 98 FM, trouxe a informação de que o jogo será na Vila Capanema. A diretoria do Paraná não confirmou o empréstimo do estádio ao Atlético, mas admitiu que houve nova conversa, desde o episódio das notas oficiais. Porém tudo foi intermediado pela FPF e o Tricolor quer negociar diretamente com o Atlético. A possibilidade existe, mas além da necessidade de uma reunião entre Paraná e Atlético, o estádio precisa ser liberado. “Mas é coisa simples. São alguns laudos que têm de ser renovados, se tiverem pressa, dá até quarta. Depois complica, porque já é carnaval”, disse-me Amilton Stival, vice-presidente da FPF. Ele também negou que o jogo já esteja confirmado para a Vila, na quarta de cinzas, 22.

Caso o jogo se confirme para a Vila Capanema, será o 17o. Atletiba na casa tricolor. O último foi há 35 anos, o #190, no dia 23/01/1977, vencido pelo Coritiba por 3-1. A vantagem estatística nos jogos no Durival Britto e Silva é coxa-branca: 8 vitórias e 35 gols marcados contra 5 vitórias e 23 gols do Furacão. Dois jogos realizados na Vila entram na lista dos mais importantes do clássico: a maior goleada do confronto, imposta pelo Coritiba por 6-0 em 14/11/1959 e o histórico Atletiba de Paulo Vecchio, de 1968, quando o Atlético ia vencendo por 1-0 até os 46/2T e ficando com uma taça que não via há 10 anos, mas viu o atacante alviverde empatar no último minuto e prorrogar a agonia o Furacão com o título do Coxa.

Luís Enrique Cáceres

O meia do Cerro Porteño deve ser o novo reforço do Coritiba. Uma reunião entre os empresários do jogador e a diretoria do Coritiba define entre amanhã e quarta-feira a contratação do jogador de 23 anos, que atua como segundo volante. Segundo informações, ele chega para suprir a vaga de Léo Gago, que foi para o Grêmio.

Cáceres é considerado um volante com chegada e qualidade na armação, além de bons arremates de fora da área. Abaixo, um gol dele pelo Cerro Porteño no Campeonato Paraguaio:

O jogador passará por exames. Ele teve um problema no joelho no ano passado, quando quase acertou contrato com o Atlético. O contrato também depende dessa aprovação.

Guerrón por Saulo?

Corre em Recife a informação de que o Sport está interessado em levar o atacante Guerrón e emprestar o goleiro Saulo por uma temporada ao Atlético. O interesse pernambucano foi confirmado pelo editor do Globo Esporte em Recife, Leonardo Aquino, mas sem precisar exatamente o avanço das negociações. No Atlético, como de praxe, nem um pio sobre o tema.

Saulo tem 22 anos e se destacou no ano passado por duas situações pitorescas. O primeiro foi quando marcou um gol de cabeça aos 45/2t contra o Vitória-PE no Campeonato Pernambucano 2011. Na comemoração, o goleiro machucou-se seriamente e ficou afastado do futebol por nove meses. Veja o lance:

A segunda foi extra-campo: mostrando que é mesmo pegador (característica importante a um goleiro) Saulo caiu na net em fotos e filmes pornográficos com uma garota. Segundo ele, a menina teria perdido o celular. Vale a pena ler a reportagem aqui.

Estádio não é problema só em Curitiba

Time grande, de massa, campeão nacional, já decidiu a Libertadores e tem um dos maiores parques associativos do seu país; foi rebaixado para a segunda divisão no ano passado e nesta temporada não tem estádio para jogar. Identificou? É possível que você tenha pensado no Atlético, mas quem também vive esse problema é o River Plate, da Argentina (que, por sinal, também é Atlético: CARP).

River Plate não sabe onde e quando estréia no 2o. turno da B Nacional

Vice-líder da segundona argentina (que ao contrário da primeira, não se divide em dois torneios, somando os pontos de Clausura e Apertura para o acesso), o River Plate vendeu mais de 10 mil entradas para o jogo contra o Chacarita Jrs., mesmo sem ser mandante. O acordo lá é diferente daqui: a AFA permitiu nessa temporada que os visitantes pudessem levar torcida nos campos dos adversários, o que não era permitido até a queda do River. A intenção é faturar com a presença do gigante portenho na Bzona. Só que o Chacarita Jrs., mandante, também vendeu ingressos e seu estádio em San Martín não suporta o volume de torcedores. A AFA então requisitou o estádio do Racing, em Avellaneda, região metropolitana de Buenos Aires, para o jogo. Ouviu um não do clube e da prefeitura.

O Chacarita resolveu então impor seu direito de mandante e quer jogar em San Martín, sem presença da torcida visitante. O River sugeriu La Plata e a AFA ainda está definindo se o jogo que seria realizado neste sábado (11) será amanhã em San Martín ou segunda, em La Plata. A definição tem de sair hoje. Por via das dúvidas, o River Plate já começou a devolver o dinheiro dos ingressos a quem procurar o clube. Mas tanto River quanto Chacarita seguem vendendo ingressos para quem quiser ir ao jogo, em diferente setores. Entendeu? Nem eu. Na verdade, pobre dos torcedores da Argentina, lá como cá, jogados a segundo plano.

Enquanto isso, na Espanha…

a Real Federação Espanhola de Futebol não sabe onde marcará o jogo final da Copa do Rei, entre Barcelona e Atlhetic Bilbao. A decisão acontece em jogo único e em campo neutro. Madrid seria o local mais indicado, mas o Real Madrid, alegando possibilidade de decidir a Liga dos Campeões da Europa poucos dias antes da decisão da Copa nacional, se recusa a emprestar o Santiago Bernabéu. Segundo o clube merengue, há risco de confrontos entre as torcidas porque os madrilenhos pretendem fazer uma festa no estádio; já o Atlético de Madrid também descartou empréstimo: o Vicente Calderón, seu estádio, está alugado para a mesma data (20/05) para um show do Coldplay.

No fundo, tudo é cortina para o principal: Madrid teme um confronto entre os munícipes da capital, os bascos do Atlhetic e os catalães do Barça no dia da final. Fora o fato de os torcedores do Real não admitirem a possibilidade de o Barcelona levantar uma taça no templo merengue – o que jamais aconteceu.

A cidade de Valencia também se manifestou contra a possibilidade de abrigar o jogo. Em 2009 os mesmos dois clubes decidiram a Copa no estádio Mestalla, do Valencia – deu Barca, 4-1 – e a cidade foi palco de brigas entre as torcidas. Os demais estádios do país são considerados pequenos demais para abrigar a final.

A Federação estuda a possibilidade de realizar o jogo no Camp Nou – o que seria uma vantagem para o Barcelona – mas dividindo a carga de ingressos entre as torcidas: 40 mil entradas para cada. A decisão sairá na terça-feira.

TJD mantém liminar e Couto não precisa ser alugado ao Atlético até julgamento

O Coritiba fez valer seu desejo e está desobrigado, via liminar, de alugar o Estádio Couto Pereira ao Atlético, ao menos para o primeiro jogo do Campeonato Paranaense 2012.

Isso porque o TJD-PR, através do presidente Peterson Morosko, manteve a liminar que o Coxa conseguiu, desobrigando-o a ceder o estádio através da interpretação do artigo 42 do Estatuto da FPF (como foi explicado aqui e aqui). Segundo Morosko, “a interpretação do artigo é dúbia. Você pode requisitar para um evento especial, por exemplo. Nesse caso poderia até se entender que é uma sublocação. Então mantive a liminar e vamos levar para o pleno.”

Morosko ainda disse que levou em consideração uma defesa da FPF de cinco páginas, assim como a justificativa do Coritiba, com laudos de um engenheiro agrônomo, de que o gramado recém-reformado poderia ser danificado com tantos jogos seguidos.

Agora, o caminho se divide:

1) Atlético x Londrina pode ser realizado em Ponta Grossa ou Paranaguá; a definição sairá em instantes, até às 16h de hoje (quinta, 19).

Mário Celso Petraglia, que não tem atendido os telefonemas, disse pelo Facebook que “o Atlético se licenciaria do campeonato antes de jogar fora de Curitiba”:

2) A disputa segue. O Coxa está desobrigado a ceder o Couto à FPF (e por tabela ao Atlético) até a próxima quinta-feira, quando deve ocorrer o julgamento. As partes serão intimadas, um relator será sorteado e a procuradoria irá atrás das provas. Independentemente da decisão do TJD-PR na próxima semana, as duas partes poderão recorrer. O Atlético só entra no processo como terceiro interessado.