“Nesse mês fui ao meu primeiro Real Madrid x Barcelona em pleno Santiago Bernabéu. E o que eu não vi foi futebol…. Aquilo lá é outra coisa”

Há muito tempo digo que o futebol no Brasil é pouco profissional. Quando as pessoas comentam que é “um absurdo os jogadores ganharem tanto dinheiro”, eu discordo. Por que é um absurdo o Özil ganhar milhões de euros e a Angelina Jolie não? Ela aporta mais à sociedade do que o Messi? Para algumas pessoas pode ser que sim, para mim não. Também podemos olhar desde o ponto de visto da economia: Messi e Cristiano Ronaldo são “ativos” de duas das empresas esportivas mais valiosas do mundo. São investimentos amortizados e rentabilizados em negociações publicitárias, venda de camisetas, entradas para jogos, etc… Para mim, que moro na Espanha há 4 anos, o futebol é claramente um negócio maduro e rentável, mesmo em um país em crise.
E foi só depois desses 4 anos que eu tive a oportunidade de ir ao Santiago Bernabéu ver um jogo entre Real Madrid e Barcelona (que ganhou por 1 x 2, no jogo de ida da Copa del Rey – veja os gols abaixo). E posso garantir para vocês, um jogo desses impressiona: é muito mais do que futebol.
Quando os esportistas chegam a um nível tão alto de desempenho e superação, o quê se vê é um espetáculo com todas as letras. Velocidade, disputa e muita inteligência. Não tem corpo mole, nem chutão ou tempo perdido. É futebol do princípio ao fim. Apesar de o Real ter jogado muito menos do que esperávamos, do Mourinho ter decepcionado os torcedores brancos e do Cristiano Ronaldo ter atacado menos do que gostaríamos, não tenha dúvidas de que os 90 minutos foram intensos. Principalmente após o gol de Cristiano Ronaldo no primeiro tempo. Depois disso começou uma nova etapa na partida: muita marcação, corpo a corpo e especial velocidade nas disputas de bola.
Os dois times se movimentam sem parar, cada passe é feito com uma precisão cirúrgica e, naquele clássico, a estratégia do Barcelona ficava clara. Nós estamos acostumados a ver esse time na televisão – sabemos que seu futebol está baseado no toque de bola – mas, ao vivo, impressiona ainda mais. O Barça é uma equipe com todas as letras: todos os jogadores trabalham pelo bem do time e se ajudam durante o tempo inteiro.
Já o Real Madrid tem um jogo mais individual, cada um quer mostrar seu talento, o quê prejudica o toque de bola e o futebol. Muitos chamam o jogo de Mourinho de anti-futebol, e não estão completamente errados. Depois do empate de Puyol ainda no primeiro tempo, um Real ultradefensivo e perdido em campo passou a apelar para uma marcação mais forte e violenta.
Faltas, como o pisão infame do Pepe na mão do Messi ainda no chão, não foram suficientes para tirar o brilho do espetáculo e de um Barcelona que teve seus jogadores saindo de campo aplaudidos em pleno Bernabéu e que venceu por 1 x 2 com um gol de Abidal no segundo tempo.
O Barça deu uma lição de futebol ao Real Madrid dentro da sua própria casa. E não foi a primeira vez: durante a Era Mourinho, que começou em 2010, foram 11 enfrentamentos com apenas 1 vitória do Real Madrid e 3 empates.
O jogo de volta da Copa del Rey era decisivo, apenas um dos dois clubes se classificaria para a seguinte fase e o Barcelona a conquistou, depois de um empate de 2 x 2 (veja os gols abaixo). Nesse jogo vimos um Real Madrid mais lutador e unido. Outro espetáculo, que deixa claro duas coisas: o Barça é obviamente superior ao Real Madrid em qualidade de jogo e em equipe. E a Espanha, apesar de viver uma das maiores crises da sua história, é o país que tem o melhor futebol da atualidade.
*Isabela Sperandio é jornalista, curitibana residente em Madrid.No blog Igualzinho ao Brasil, ela conta o cotidiano espanhol e as comparações entre os países; no texto, contou com a colaboração de Raul Suhett.