Sobre heróis e vilões

“O Atletiba de todos os tempos”. Ao menos é assim que boa parte dos colegas de imprensa venderam o clássico. Eu prefiro esperar. As possíveis combinações, o cenário do clássico, até dão a possibilidade de que isso seja real; mas, e se for um modorrento 0-0, rebaixando o Atlético e tirando o Coritiba da Libertadores, ainda será o maior? Rotular o clássico antes da bola rolar é o mesmo que achar que o favoritismo analítico do Coxa já garantiu a vaga na competição sul-americana e, de quebra, rebaixou o Furacão. Isso, talvez, só depois das 19h de amanhã.

Um clássico para ser histórico tem de ter muitos elementos. O 348 se apresenta com credenciais, mas ainda não o é. Não é maior que o histórico Atlético 4-3 Coritiba de 1971, o #156, com diversas viradas, com Nilson Borges perdendo pênalti para o Atlético, que perdia por 2-0; não é maior que o #275, de 1995, quando Brandão aplicou um chocolate na páscoa atleticana, transformando os 5-1 do Coritiba sobre o rival no estopim da revolução petraglista. Ou ainda o #146, quando Paulo Vecchio impediu, no último minuto, que o Atlético saísse de uma fila de 9 anos sem títulos, no 1-1 que deu ao Coxa o título daquela temporada. Quem sabe o #305, quando depois de estar perdendo por 0-1, o Furacão aplicou 4-1 no adversário em pleno Couto Pereira, na Seletiva da Libertadores em 1999, o de maior relevância nacional até aqui. São 347 edições e entre Bergs e Dirceus, Tutas e Danilos, o clássico tem muitos heróis e vilões.

Não há como esconder o favoritismo do Coritiba, aberto nos objetivos distintos e nos números de toda a competição. Será que o herói vestirá alviverde? Marcos Aurélio, um ex-atleticano, pode fazer o gol da sentença rubro-negra? Ou Jéci, o capitão do Coxa mágico de 2011, do recorde mundial? Ou Vanderlei, vilão em 2009, salvará o Coxa de lances agudos? Conseguirá o Coritiba a vaga para a 3a Libertadores da sua história ou sua gente deixará a Arena frustrada? Clássico tem favorito? No Estadual, teve. E agora, no jogo que pode mudar a história dos dois clubes?

Ou o herói vestirá rubro-negro, podendo ser Cléber Santana, que perdeu pênalti ao longo do campeonato em pontos que hoje fariam a diferença? Poderá ser o “maestro” Paulo Baier, que não brilhou ainda em Atletibas, e pode quebrar um tabu de 3 anos, que corresponde a passagem dele e do presidente Marcos Malucelli no clube? E se o Atlético fizer 2, 3 a zero no Coritiba e não for o suficiente? O herói atleticano virá de Minas Gerais ou da Bahia? Poderá ser Souza ou Cuca, um no Bahia, outro no Galo, salvando o Furacão do rebaixamento, como De Vaca, do Libertad o fez em 2005, quando fracassou por conta própria na Arena (o que não é permitido dessa vez) ao levar 1-4 do Medellín, mas contou com a derrota do América em Cali para chegar ao vice da Libertadores, hoje o sonho do Coritiba, que ganhou segunda chance após a Copa do Brasil.

Quem, entre tantos que mal dormiram nessa semana, arrisca cravar? A gigantesca expectativa, a semana cercada de silêncio dos dois lados, mas com trocas de provocações entre as torcidas – diga-se, a torcida do Coxa deitou nos atleticanos como nunca se viu – mas que, também ressalte-se, parece apontar para um cenário tranquilo no jogo. A soma de tudo, para termos novos heróis e vilões, para que a previsão dos colegas sobre a relevância do #348 se confirme.

Será impossível agradar os dois lados. Ótimo, não? É disso que a rivalidade é construída; antagonismo. E não inimizade, violência. No futebol, nada é impossível, tudo é mágico. E certamente muitos terão histórias a contar a partir de segunda-feira. Com paz e tranquilidade, espera-se.

E um ótimo espetáculo dentro de campo.

A mulher de César

“À mulher de César não basta ser honesta, tem que parecer honesta*” (César Augusto, imperador romano)

Bahia x Ceará se enfrentam 17h de domingo, no Estádio de Pituaçu, em Salvador. Agora, mais do que antes, sob os olhares desconfiados de atleticanos e cruzeirenses espalhados pelo Brasil. Afinal, quando um clube usa seu veículo oficial para manifestar desejo de que seu próximo adversário tenha sucesso, tudo pode acontecer.

A infeliz nota publicada no site do Bahia possivelmente não reflita o pensamento de todos os torcedores, dirigentes e jogadores do Tricolor da Boa Terra, mas certamente dá a chancela oficial do clube. É o desejo do Bahia: que o Ceará permaneça na elite. E para que isso aconteça, o Ceará precisa vencer o Bahia, em Salvador, contando com um tropeço do Cruzeiro no clássico com o Atlético-MG.

Nenhum outro resultado será permitido ao Bahia senão a vitória, após a publicação da nota. Qualquer outro final e, para todo o sempre, o time de Salvador viverá sob a sombra da possível entrega do resultado. Ainda que o Ceara faça o jogo de sua vida, é o Bahia quem já está perdendo. Tudo por uma infeliz decisão do departamento de comunicação da equipe baiana. É pouco provável – e muito lícito, inclusive – que o STJD puna o Bahia em algo mais que uma multa. Coisa pior aconteceu entre Fortaleza e CRB na Série C nacional e os times cearense e alagoano passaram batido.

Dirão: “mas o Bahia tem chances de chegar a Copa Sul-Americana! Por que entregar?”. É fato. Mas para isso tem de torcer contra Atlético-MG ou Atlético-GO – este, recebe o América em casa. E o principal: a pergunta desconfiada das intenções do Bahia aparece motivada por uma decisão do próprio Bahia.

A distância, o Atlético assiste a tudo, tendo que contar com a incompetência alheia para não cair para a Série B. E, pela frente, o clássico mais importante já disputado em Curitiba. Do outro lado está o Coritiba, simplesmente precisando da vitória para chegar a Copa Libertadores 2012.

A queda atleticana, que parece inevitável, não terá como única causa uma eventual derrota do Bahia. Foram 38 rodadas decisivas, não uma apenas. E para não ir muito longe, se tivesse vencido o América na última rodada, o Atlético dependeria apenas de si. Paga o preço por ser incompetente.

Mas a nota no site do Bahia já fez um estrago: duvida-se agora da lisura do processo. Apagará a vergonha rubro-negra em caso de queda? Não.

Mas mostra o quão despreparados e anti-profissionais estão alguns setores do futebol brasileiro.

*Relato sobre a frase, retirado do site Guia do Estudante, abaixo:

(…) A frase original surgiu após um escândalo em Roma, por volta de 60 a.C., envolvendo o homem mais poderoso do mundo, sua mulher e um nobre pretendente.

Pompéia vivia muito sozinha, enquanto o marido Júlio César passava meses com seus exércitos. É nesse cenário perfeito para as fofocas que surge Clódio, um nobre admirador da moça. “Numa noite, para conseguir se aproximar de Pompéia, ele entrou no palácio disfarçado, mas acabou se perdendo pelos corredores e sendo descoberto e preso”, diz a historiadora Maria Luiza Corassin, da Universidade de São Paulo.

O jovem foi levado ao tribunal e o próprio César convocado para prestar esclarecimentos. “Ele declarou ignorar o que se dizia sobre sua mulher e a julgou inocente”, afirma Maria Luiza. O penetra foi absolvido, mas Pompéia não se livrou do ostracismo e do repúdio do marido. Para quem o acusava de estar sendo contraditório, ao defender a mulher no tribunal e condená-la em casa, ele teria afirmado: “Não basta que a mulher de César seja honrada, é preciso que sequer seja suspeita”.

Manchester já viu um clássico como esse

Na semana do #Atletiba348, uma lembrança me veio a cabeça: o cenário em que o Coxa rebaixa o Atlético na casa rubro-negra é inédito para nós, mas já aconteceu em Manchester. E com pitadas de sadismo, como pode acontecer aqui – com a diferença que a cereja coxa-branca é a vaga na Libertadores.

Em 1974, no final da temporada 73-74, o Manchester United capengava. Após anos de domínio no futebol inglês, com os Bubsy Babes, o campeonato daquele ano reservou um drama aos Red Devils até a última rodada, quando a tabela programava o derby de Manchester contra o City.

O United precisava vencer e torcer por uma derrota do Southampton para permanecer na elite inglesa. O empate não servia aos Devils, que recebiam os Citzens no Old Trafford.

Um dos grandes craques da história do United, Denis Law, havia acertado com o City para a temporada 73-74. Law faz parte da Trindade Divina do United e tem até estátua no clube, ao lado de George Best e Bobby Charlton. Mas já no fim da carreira e com a família fixando residência em Manchester, topou vestir a camisa do City.

Os resultados não ajudavam o United, tampouco o próprio time, esbarrando no nervosismo. Já no final da partida, Law recebeu uma bola na área, de costas para o gol. E o resto vocês acompanham no vídeo abaixo:

A invasão de campo da torcida do United, logo após o gol, teve como principal motivo a tentativa de impugnar a partida. Não adiantou. O United voltou à elite no ano seguinte, como vice-campeão da segunda divisão e acabou a primeira, em 76, na terceira posição. De 1980 para cá, tornou-se o principal clube inglês.

Curiosamente, ao conceber a Arena da Baixada, Mário Petraglia visitou o Manchester United e inspirou-se no Old Trafford para o conceito do estádio atleticano.

O futebol é terreno fértil para heróis e vilões; o Atletiba 348 poderá ter um coxa-branca como Denis Law (Marcos Aurélio?) ou um atleticano que, contando com os demais resultados, salve o time e elimine o rival da Libertadores/12.

Mas o importante é que todos sigam para contar novas histórias nos anos seguintes.

#Atletiba348: os cenários possíveis

Entenda todas as possibilidades de resultados ao final do Atletiba 348, domingo, na Arena

A) Atlético rebaixado, Coritiba na Libertadores

É o que acontece no atual momento. Para tanto, basta uma vitória simples do Coxa, que continuaria no G5 e manteria o Furacão no Z4.

B) Atlético rebaixado, Coritiba eliminado

Cenário que acontece se o clássico empatar ou o Atlético vencer por qualquer placar, mas o Cruzeiro empatar seu jogo com o Atlético-MG e/ou o Ceará vencer o Bahia e, além disso, Inter ou Figueirense somarem um ponto ou São Paulo ou Botafogo somarem três pontos.

C) Atlético salvo, Coritiba eliminado

É possível com a soma das vitórias do Atlético e do Atlético-MG nos clássicos aqui e em Minas Gerais e com um empate entre Ceará e Bahia em Salvador. Além disso, Inter ou Figueirense somarem pontos ou São Paulo ou Botafogo vencerem.

D) Atlético salvo, Coritiba na Libertadores

É possível, apesar de improvável. Basta que o Atlético vença, assim como o Atlético-MG faça o mesmo contra o Cruzeiro. É preciso ainda que o Ceará não passe de um empate contra o Bahia. Essa combinação salva o Atlético. Aí, para que o Coxa mantenha-se no G5, é preciso que Grêmio e Avaí vençam os clássicos em RS e SC e São Paulo e Botafogo não vençam seus clássicos contra Santos e Fluminense.

“Entrega, Coelhão!”

Ao longo da semana, a torcida do América-MG lançou um movimento chamado “Entrega, Coelhão!”, para que o clube perca o jogo para o Atlético e assim, por consequência, prejudique o Cruzeiro, rival americano. O movimento teve repercussão na imprensa mineira e, a convite do blog, o jornalista Carlos Silveira escreveu crônica sobre o fato. Acompanhe.

por Carlos Silveira

O que move o futebol é a rivalidade. Quantas vezes já ouvimos esta frase? Muitas, certamente. Rivalidade que nos faz chegar ao trabalho ou a escola, em uma segunda-feira, sedento para encontrarmos os amigos torcedores do rival derrotado, ou nos escondendo para despistar os rivais vitoriosos. Rivalidade que movimenta grandes cidades do país em dia de jogos, que une pessoas que jamais se uniriam por outro motivo, ou separa momentaneamente amigos fiéis do dia-a-dia. Rivalidade que, por vezes, torna-se mais importante que os jogos em si.

Poderia uma torcida, por esta rivalidade, torcer contra o seu próprio clube? Certamente que sim e a torcida do América Mineiro é a mais recente prova disto. Com o clube já rebaixado no Campeonato Brasileiro, a torcida americana pede aos berros que o time entregue o jogo do próximo domingo para o Atlético Paranaense. O motivo? Prejudicar o Cruzeiro, um de seus rivais locais. Cruzeiro e Furacão são rivais diretos na briga para ficar na Primeira Divisão.

No meio dos torcedores americanos nas redes sociais, o “entrega coelhão” ganha força, embalado também por uma enxurrada de e-mails destinados à diretoria do clube e à assessoria de imprensa. E isto não é novidade, acontece todo ano, o que muda é o “endereço” da torcida que pede a derrota de seu clube para prejudicar um rival.

Normalmente, Atlético Mineiro e Cruzeiro dividem as atenções da maioria, até por ser a torcida do América consideravelmente menor que a dos rivais, mas o assunto da semana em meio a rodas de conversas sobre futebol em Belo Horizonte é a expectativa sobre o comportamento do América no domingo. A imprensa mineira faz o possível para ignorar o apelo dos torcedores americanos, certamente evita dar espaço para algo que lhe será prejudicial. Tenta inclusive forçar a barra para uma possível “vingança” dos jogadores americanos em relação ao treinador do Atlético Paranaense, Antônio Lopes, que teve passagem desastrosa pelo time mineiro neste Brasileirão. É o clima de rivalidade esquentando a capital mineira.

Os americanos mais exaltados falam em protesto caso o time obtenha outro resultado que não seja a derrota para o Atlético. O clima já esquentou até entre os próprios americanos, visto que uma pequena parte da torcida não concorda com a entrega do jogo, inclusive porque pode custar ao clube uma vaga na Copa do Brasil de 2012. Caso o Figueirense não conquiste uma vaga na Libertadores, poderá ultrapassar o América no ranking da CBF e tomar a vaga do clube mineiro na Copa do Brasil. Em princípio, o América deve ficar com a última vaga destinada aos melhores ranqueados. Aos defensores do “entrega coelhão”, mais importante é ver o rival na Segunda Divisão, enfrentando inclusive o próprio América.

O discurso dos jogadores e da diretoria do América não poderia ser outro, o de que vão jogar como sempre, sem se preocuparem com outros clubes. Na prática não se sabe, mas a escalação do América que, ao que parece só será anunciada pouco antes da partida, já poderá nos dar indícios do comportamento do time em campo. Nos coletivos da semana Givanildo começou com o time titular em campo.

Calendário 2012 será cruel com o Paraná

Hélio Cury, presidente da FPF, foi taxativo em entrevista hoje a tarde, já após o resultado do julgamento do Caso Rio Branco, que definiu que o Paraná Clube terá que disputar a Série Prata do Estadual em 2012: não há a menor chance de modificar o calendário para que o Tricolor não fique cinco meses sem futebol.

“Não. Nenhuma. Temos um calendário definido. Em detrimento a 10, 12 clubes, mudar por um? Qual clube tem elenco agora? Infelizmente é isso”, disse-me. A Série Prata tem início marcado para maio de 2012 e até lá o Paraná poderá disputar somente a Copa do Brasil, entrando pelo ranking da CBF (a vaga está praticamente garantida, faltando homologação). A Copa do Brasil terá a primeira rodada em 7 de março. A Série B nacional terá início em 19 de maio e, para garantir-se nela, o Paraná precisa ao menos empatar com o Bragantino, sábado, na Vila Capanema. Se perder e Icasa, Asa e (e não ou, tem de ser todos os resultados) São Caetano vencerem seus jogos, o clube estará rebaixado a Série C, que terá início em 27 de maio de 2012. Todos os envolvidos na luta contra a queda jogam em casa.

Ao falar com o presidente eleito do Paraná, Rubens Bohlen, encontrei-o em meio a uma reunião de realinhamento de estratégias para 2012. A mudança no calendário com a queda no Estadual afeta diretamente os planos. “Temos que nos refazer. Tínhamos um pensamento para o primeiro semestre, agora mudou”, me disse. Questionei se ele solicitaria a FPF um realinhamento no calendário: “Isso também está em pauta. Faz parte do que estamos discutindo, mas vamos tentar compatibilizar com a Federação”, declarou, antes de saber a postura de Hélio Cury.

Realmente, Cury não deve privilegiar qualquer membro em detrimento de outros. Mas em Estados vizinhos (SP e MG, por exemplo), as Federações adaptaram-se as necessidades de Guarani, Portuguesa e Ipatinga. Na maioria do País, as divisões estaduais correm em paralelo. No Pará, o Estadual começa antes, ainda no ano anterior, para os times menores e Remo e Paysandu entram no início do ano; no Maranhão, o estadual corre o ano todo. Cada Estado tenta se adequar a uma situação.

E o Paraná viu dois grandes locais, Londrina e Paraná Clube, amargarem descenso em campo recentemente. Cury contra argumentou: “Aqui não tem política. O que tem é desportividade. Não nos cabe opinião, tem que cumprir a lei. O Londrina jogou dois anos seguidos. Nós temos um campeonato dentro de um calendário da CBF. Temos de maio a agosto para a Série Prata e de agosto a dezembro para a terceirona. Não temos como mudar.”

Com o quadro atual, o calendário 2012 exigirá muita assertividade da diretoria paranista. É muito difícil montrar um time para atuar só a partir de março (contando a Copa do Brasil) e com datas fixas a partir de maio. E mais difícil ainda montar duas equipes, pois algumas datas da Série Prata e do nacional podem ser conflitantes. E tudo isso com pouco ou nenhum dinheiro.

No calendário paranista de 2012, pelo menos no aspecto estadual, muitas viagens e nenhuma atratividade. O campeonato não tem patrocínio, não tem cobertura da mídia local (e nessa a própria imprensa sofre: quantas rádios, TVs ou jornais conseguirão cobrir os jogos do Paraná?) e o clube só terá jogos a mais de 208km – a cidade mais próxima é Prudentópolis. Os adversários serão Junior Team e Cincão EC (Londrina, 387km) Nacional (Rolândia, 398km), Grêmio Metropolitano (Maringá, 438km), Serrano (Prudentópolis), Iguaçu (União da Vitória, 238km), Foz do Iguaçu (643km), FC Cascavel e Cascavel CR (503km). Um quadro cruel que o Londrina, como exemplo, só reverteu após uma parceria em que o clube foi entregue a SM Sports, investidora que bancou os custos.

O risco Atletiba

Guerra. Ou jogo, entretenimento, disputa saudável?

Seis de dezembro de 2009.

Imagens falam mais que palavras. E se errar é humano, repetir o erro é burrice. Não gosto de me considerar burro, e creio que nem você, que lê esse texto.

A CBF determinou que a última rodada do Campeonato Brasileiro seja repleta de clássicos porque, desportivamente, os últimos anos deixaram dúvidas quanto à lisura do sistema. Medida correta, se a cultura fosse apenas desportiva. E devemos brigar para que seja. Mas a briga costuma ser outra.

Enquanto escrevo esse texto, América-MG e Avaí são matematicamente rebaixados. A briga sobra para Ceará, Cruzeiro e Atlético, que se enfrentam amanhã em Minas. Já a Libertadores está mais distante do Coritiba, que vê o São Paulo abrir vantagem, sem contar Fluminense, Figueirense, Inter, Flamengo e Botafogo na briga. Difícil.

Mas vejo a cidade alimentar uma guerra para o Atletiba da Baixada, que pode rebaixar o Atlético para a Série B do Brasileiro. Guerra. Sanha. Desejo sanguinário de ambos os lados, como quem quer devorar o outro. Um por escapar: “Não perderemos jamais!”; outro por rebaixar: “É questão de honra!”

Isso já foi visto em quem influi no resultado, como o volante Léo Gago:

Ou o ex-presidente e candidato a voltar ao clube, Mário Petraglia que, embora não responda diretamente como Léo Gago, tem tanta ou mais repercussão na torcida:

O resultado, seja qual for, não mudará a vida do torcedor. Cair e subir, ganhar e perder, é do jogo. Para o Coritiba, pode não significar nada; para o Atlético, apenas a manutenção de um sistema. Seja como for, se houver violência, ambos perdem.

Perdemos todos. A sociedade curitibana, que já viu o ocorrido acontecer e parece não se preparar para tal; os clubes, que perdem mercado e respeito. E principalmente você, torcedor, que perde o respeito e confiança de ir a campo.

Sejamos sinceros: quem é que quer ir ao Atletiba da última rodada, sem medo de ser machucado?

A que ponto chegamos? Uma brincadeira sadia, um sarro, uma curtição, tornou-se ameaça.

O Comando de Policiamento da Capital recusou-se a dar alguma resposta antes de segunda-feira; as torcidas organizadas tem responsabilidade direta no que pode acontecer. É difícil controlar a massa, mas é fácil lucrar em cima dela, com camisas, adesivos, etc.

E cada um que cria um clima de guerra para o Atletiba, como se vencer um jogo por si só já não fosse o objetivo único de cada clube, como se “essa pessoa exige que o time TAL vença o Atletiba” fosse algo significativo, está colaborando com lenha para uma fogueira que pode não ter controle.

Seja qual for o resultado em campo, eu quero estar saudável e capaz de fazer o Jogo Aberto Paraná para a melhor situação possível na segunda, 05/12.

E você? Quer ver o programa do hospital ou curtir seu amigo?

Mobilização atleticana

A água bateu no queixo. Para o jogo de domingo, na Arena, contra o Ceará, não tem desculpa: é vencer ou vencer.

O Atlético tem brincado com a sorte em 2011. Mesmo com uma campanha abaixo da crítica, consegue se manter vivo graças a incompetência dos adversários. Nem adianta fazer contas. Paulo Baier já disse: “É o último suspiro.”

Ontem, no CT do Caju, os jogadores convocaram mais que a torcida: convocaram a comunidade a salvar o Furacão. Nem se trata de transferência de responsabilidade. Depois de tanto errar, o que eles querem mesmo é um pouco de sossego e adquirir confiança para tentar sair do lodo.

Num ótimo trabalho de edição de Carol Mafra, o Jogo Aberto Paraná exibiu o vídeo abaixo. Sem números, sem interferência ou lembranças (verdadeiras) da fase do Atlético: apenas o apelo dos jogadores e do técnico por ajuda. Confira:

O Jogo Aberto Paraná vai ao ar de segunda a sexta, 12h30, na Band Curitiba, Canal 2, para Curitiba, Paranaguá e litoral e Ponta Grossa e Campos Gerais.

Rápidas e precisas

Comprometimento

Faltando oito jogos para o final do Brasileiro, só um milagre salva o Atlético. E o milagre tem nome: comprometimento. Um dos maiores erros da Gestão Marcos Malucelli no futebol foi sempre alardear que o atual mandatário não ficaria no cargo no ano que vem. E se o presidente deixará o clube, não serão os jogadores emprestados que botarão suas valiosas pernas em disputas ríspidas para manter o rubro-negro na elite. Além de que as declarações de Malucelli por vezes inibia ambições. “O último que sair, apague a luz” é um ditado que poderá definir o ano atleticano.

Comprometimento II

Ao que parece, um passo interessante nesse sentido já foi dado: contra o Botafogo, dos 11 jogadores que começaram a partida, nove tem vínculo com o clube além do Brasileirão/11. Não deu muito resultado, mas são jogadores como Renan Rocha, Deivid, Manoel, Morro García, Marcinho e Paulo Baier (e outros que não jogaram, como Guerrón) que podem evitar que o clube – e eles próprios – joguem a Série B em 2012.

Guerrón: nos pés dele o futuro do Atlético... e de si próprio (Foto: @heulerandrey)

Passado que ensina

Em 1998 o Atlético fazia um péssimo campeonato. Faltando 11 jogos para o fim, o time estava seriamente ameaçado de rebaixamento. A equipe tinha o volante Paulo Miranda (que também passou por Coxa e Paraná) que contou a história: “Um dia, após uma derrota, o Petraglia entrou no vestiário e disse: ‘vocês que são do clube, tirem o cavalo da chuva: ano que vem todo mundo jogará a Série B comigo; e vocês que estão emprestados, já estou negociando para que fiquem aqui. Seus clubes não vão os querer de volta’.” O susto valeu: o time venceu seis jogos seguidos e quase se classificou para a segunda fase – o campeonato não era por pontos corridos.

Polêmica

Direto do Alto da Glória: o volante do Coritiba Léo Gago, em entrevista ao site Globo Esporte.com, meteu o dedo na ferida do Atlético, quando perguntado se o Coxa ainda tinha chances de Libertadores: “Podemos conseguir a classificação. (…) Na última rodada, temos o clássico contra o Atlético. Eles estarão praticamente rebaixados ou até mesmo rebaixados.” Gago projetava cinco vitórias em casa e esse triunfo fora. Mas o time enroscou no Bahia logo na largada.

Roupa nova

Se o empate com o Bahia foi sonolento, valeu ao menos para o Coxa apresentar sua camisa III, comemorativa em alusão a entrada no Guinness Book como “equipe mais vitoriosa em sequência de jogos no Mundo”. Com a cor azul-petróleo – quase um verde – a camisa faz menção às 24 datas dos jogos que o Coritiba venceu em sequência e que o credenciou a tal titulação. Belíssima.

No detalhe, as datas dos jogos do recorde

Pinheirão

Sem perigo de ser rebaixado e muito longe da Libertadores, o Coritiba volta seus olhos para o futuro. Nesta quinta (20), pela segunda vez, o Pinheirão vai a leilão. O valor inicial é de R$ 33 milhões, 50% do valor inicial do primeiro leilão. A FPF segue tentando evitar o leilão. Há uma intenção da OAS em comprar o estádio e, em seguida, chegar a um acordo com o Coxa para construir um novo centro esportivo lá. O presidente da FPF, Hélio Cury, não quis comentar o assunto: “Temos 72h para resolver isso. Até quarta eu terei uma posição”, disse, de maneira ríspida. Cury não confirmou se negocia em paralelo a venda do terreno, que está obrigado pela justiça a ir a leilão. Há uma semana, o deputado Reinhold Stephanes Jr. garantiu que o Pinheirão já foi negociado. O Coxa, por sua vez, aguarda a definição do negócio para entrar diretamente (ou oficialmente) nele.

No twitter


O diretor de futebol do Paraná, Paulo César Silva, que está afastado do contato com a imprensa, está no Twitter. Com o nick @PC_PRC, Paulo César volta a mídia via rede social, depois de se afastar dos holofotes por desgaste com a má fase do Tricolor, após uma discussão com o articulista da Rádio Banda B, Sérgio Bello, ao vivo pelos microfones da emissora. PC tem respondido aos torcedores e não entrou em nenhuma polêmica ainda. Quem criou o perfil foi a filha dele. O departamento de comunicação do Paraná não gostou muito da idéia, mas, mesmo assim, prevaleceu a vontade do diretor.

“Time grande não cai!”

Não cai? Então é a hora de mostrar.

É um mantra atleticano. Algo que começou como uma provocação aos rivais (afinal, o Atlético já disputou a segunda divisão, mas o “não cai” é em virtude das quedas recentes de Coritiba e Paraná) mas que hoje é repetido por 11 em cada 10 rubro-negros na esperança de que o lema se faça real mais uma vez.

E chegou a hora de o Atlético provar, seguindo o lema, que é time grande.

Ainda que a máxima contradiza o que já aconteceu com Grêmio (2x), Fluminense (mais que 2x), Guarani, Sport, Bahia (foi até a Série C), Botafogo, Palmeiras, Coritiba, Atlético-MG, Vasco e até o Corinthians, se time grande não cai, é o momento de o Furacão mostrar que faz parte dessa selecionada casta de clubes.

O Atlético é o sexto time a mais tempo disputando o Campeonato Brasileiro. Perde para os nunca rebaixados Flamengo, Inter e Cruzeiro e para Santos e São Paulo, que não disputaram 1979 por opção (e eram mais de 90 clubes…). Subiu em 1995 e, apesar de ter passado perto em algumas ocasiões, sobreviveu. Namora com o rebaixamento há algumas temporadas (desde 2006), deu uma puladinha de cerca o ano passado com um honroso 5o lugar, mas esse ano o casamento parece inevitável.

Time grande que não cai, não pode se omitir da luta. Time grande joga em qualquer campo. Por isso, se é pra valer a máxima, o Atlético tem que ganhar do Bahia na marra em Salvador, na próxima quarta-feira. Se ganha, respira, volta a estar a dois pontos de deixar a famigerada ZR; se empata, segue na UTI, lutando contra o tempo. Mas se perder, verá um ou até dois adversários abrirem cinco a sete pontos de diferença. Três rodadas a menos, faltando 13 para o fim. Óbito (ou casório) com data marcada.

Não há outro caminho: chegou a hora de o Atlético fazer valer o status de time grande, de campeão brasileiro. Fazer o que o xará de Minas fez com ele: ganhar no terreno do rival (o Galo, há poucas rodadas, venceu o Atlético na Arena, 0-1). Fazer valer a estrutura do CT, os investimentos milionários em Morro Garcia e Guerrón (que estarão em campo), o estádio de primeiro mundo, etc, etc.

Há uma esperança: 2008. A Globo.com tem trazido comparações rodada a rodada com outros torneios de pontos corridos. Com 24 rodadas, naquele ano, um desacreditado Atlético tinha 23 pontos, mesma pontuação atual, dois a menos que o Fluminense, primeiro time da ZR, com 25. Hoje o Altético-MG, primeiro logo acima, tem 24. E os primeiros times fora da ZR era o Santos, com 26 – hoje, o Bahia tem 27.

Um resgate história mostra a campanha atleticana dali em diante, que resultou na fuga, numa dramática vitória na última rodada sobre o Flamengo (5-3). Acompanhe (dados da Furacão.com):

24a. rodada – Goiás 4 x 0 Atlético – Mais um sintoma do rebaixamento próximo: goleado.
25a. rodada – Atlético 2 x 0 Portuguesa – Vitória em casa na marra. Parecia que o time embalaria.
26a. rodada – Atlético 0 x 0 Grêmio – Drama em casa e nova estacionada.
27a. rodada – Coritiba 1 x 1 Atlético – Rafael Moura abriu o placar, mas Ariel freou o Atlético.
28a. rodada – Santos 4 x 0 Atlético – Goleado por um adversário direto. Três jogos sem vencer.
29a. rodada – Atlético 1 x 3 Fluminense – O famoso jogo do pênalti com a mão de Rafael Moura. Aqui, o Atlético foi dado como morto.
30a. rodada – Inter 2 x 1 Atlético – Em cinco jogos, dois pontos ganhos. Mas a sorte ajudou: era só um ponto para sair da ZR, abaixo de Náutico e Portuguesa. Faltavam 7 jogos.
31a. rodada – Atlético 1-0 Cruzeiro – Rafael Moura voltou a aparecer.
32a. rodada – Vasco 2-2 Atlético – O Furacão ia quebrando o tabu de nunca vencer em São Januário, mas Madson empatou aos 42/2T. Mas a distância ainda era só de 1 ponto para Lusa e Timbu.
33a. rodada – Atlético 1-0 Sport – Rafael Moura, aos 46/2T, numa cabeçada inacreditável, garantia três pontos e a saída da ZR. Pasmem: o time pulou do 18o. para o 14o. lugar.
34a. rodada – Figueirense 0-2 Atlético – Jogo chave, tal qual esse que se aproxima contra o Bahia. Vitória fora com gols de Alan Bahia e Rafael Moura.
35a. rodada – Atlético 2-1 Vitória – Terceira vitória seguida. Sequência ainda não vista em 2011.
36a. rodada – Botafogo 2-2 Atlético – Empate no Rio manteve proximidade da ZR.
37a. rodada – Náutico 2-1 Atlético – Derrota fora de casa para adversário direto. A distância da ZR caiu para um ponto do Figueirense.
38a. rodada – Atlético 5-3 Flamengo – Dependendo só de si, jogo tenso, mas com muitos gols, e vitória sobre o Flamengo em casa. Escapou.

O Atlético fez 22 pontos nos 14 jogos finais. Com 45 no total, ainda chegou a um improvável 13o. lugar. Caíram Figueirense, Vasco, Portuguesa e Ipatinga.

No entanto, o que fez a diferença foi o ataque. Algo que não aconteceu contra o Figueirense ontem, como você pode ver abaixo:

Na quarta, não outra saída. Se time grande não cai, chegou a hora de o Atlético mostrar que é um deles.

O blog está concorrendo ao Top Blog 2011! Clique aqui e vote na categoria Esportes!