A relação da imprensa com os clubes no Paraná nunca foi das melhores, mas nos últimos dias atingiu níveis de intolerância e proximidade perigosos. Por ora, tudo personalizado na figura do radialista Osmar Antônio, da Rádio Banda B, que recebeu cerceamento de trabalho na cobertura do Atlético no Atletiba 349 e no jogo deste domingo em Paranavaí, ouviu do zagueiro Manoel que “Não posso falar”, ao fazer uma pergunta. Logo percebeu que tratava-se de uma ordem superior para que ninguém o atendesse (outros mais podem sofrer com isso).
Exatamente na outra face da moeda, coincidentemente envolvendo um profissional da mesma rádio, Eduvaldo Brasil recebeu uma homenagem da diretoria do Coritiba, tendo sua imagem e uma mensagem de parabéns vinculada ao press kit do clube no jogo contra o Roma. Enquanto um condena, outro abraça. E pra mim nenhuma das medidas é salutar ou profissional.
Não discuto o mérito da lei – que é indiscutível, deve(ria) ser cumprida – e está melhor explicada nessa matéria da Gazeta do Povo. Osmar Antônio está credenciado por um veículo legalizado e deve ser respeitado; também não nego ao atencioso e simpático Edu Brasil o merecido parabéns e reconhecimento de todos os colegas. Edu tem uma vida dentro do Coritiba e seu trabalho é conhecido há anos. O que une as situações aparentemente tão distintas é a adoção de relações que os clubes mesmos combatem, mas colaboram.
Ao que parece, a relação do presidente do Atlético Mário Celso Petraglia com o repórter citado não é das melhores. Não existe nenhuma motivação pública (deveria ser ao menos explicada) para a medida tomada pelo clube que ele preside para agir com o profissional senão uma retaliação, por motivo ainda suposto. Mas Petraglia, que cobra profissionalismo de todos os setores, age erroneamente na situação. Já se recusa a falar com a imprensa do Paraná – mas não com a paulista, sendo citado constantemente na Folha de SP* – e orienta seus funcionários a não responderem o citado repórter. Petraglia não é obrigado a dar entrevistas a ninguém; ninguém o é, de fato. Só que ele ocupa um cargo importante e está sujeito a cobranças.
Quando fala a imprensa, fala ao torcedor. Sob a intenção de fortalecer os canais de comunicação do clube, só se manifesta pelo site oficial. Esquece-se que o site, por melhor acessado que seja, não tem o alcance que a rádio e a TV ainda têm, falando para mais pessoas, os quase 1,5 milhão de torcedores do Atlético espalhados pelo Mundo que não necessariamente visitam ou visitarão o site. Com a medida, também se priva de responder perguntas que vão ao desencontro do que ele pensa. Esquiva-se de certos temas. Quanto aos jogadores, que cumprem apenas ordens, deveriam ser orientados a dar entrevistas após Media Training, recurso vital em qualquer empresa de sucesso. A retaliação é sempre o pior caminho. Como futebol é resultado, o momento fortalece a medida aos olhos do torcedor menos politizado.
A relação do Coritiba na situação citada também tem distorções. Por mais que mereça (e merece) o carinho dos colegas, oficializar um profissional na ativa no press kit cria uma situação de cumplicidade muito grande (1). Como conduzir a isenção nesse processo? Causa um constrangimento. Estar de bem e ter boa e educada relação com dirigentes, atletas e comissão técnica não precisa ir tão longe. O Coxa já chegou a ceder espaço no site oficial para colunas semanais de alguns repórteres. Evidentemente, o espaço não pode trazer todo o noticiário, se tornando chapa branca, pois é de assessoria. E a imprensa infelizmente não traz apenas coisas boas: por vezes, uma crítica ou uma denúncia é mais salutar que o elogio, especialmente o falso.
(1) Observação: o departamento de comunicação do Coritiba entrou em contato com o blog para informar que não foi distribuído press kit com a homenagem para todos os veículos, tornando-se apenas uma homenagem interna para Edu. Indiscutível a merecida homenagem e, desfeito o engano, mantenho a análise em relação as antigas colunas, já retiradas do site.
O mercado de imprensa deveria aproveitar o momento e refletir. Jornalismo não pede passagem, acontece e pronto. É preciso independência. O mercado local muitas vezes vive de favores de dirigentes em viagens, banaliza espaços publicitários em troca de abraços, não valoriza a formação profissional de quem ocupa o microfone. Uma boa pauta não precisa de hora marcada para coletiva: existem vários assuntos de interesse público que não são esclarecidos e que poderiam ser olhados a partir disso. Jornalismo mesmo, melhor que o cômodo “treinou em dois períodos.”
Os próprios profissionais poderiam se ajudar, se respeitando, respeitando o colega e o mercado, unindo-se contra os erros e crescendo. A tudo que foi escrito acima, soma-se a eterna desconfiança dos torcedores, que talvez com essas mal traçadas entendam um pouco mais do mercado.
Não sou corporativista e já sofri na pele discriminação dos colegas. Basta você querer fazer diferente e há um preço a ser pago. Tudo o que defendo nesse espaço, que é independente acima de tudo, é por convicção pessoal. E as relações acima citadas estão erradas. As duas. Na vida, o equilíbrio é tudo. É tempo de profissionalizar o futebol do Paraná e isso passa por uma nova atitude das partes.
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